Quando um muro nos é o suficiente!

A cada ano, quando celebramos a festa de Pessach, cantamos uma canção chamada Dayenu! que basicamente diz “isso nos seria o suficiente”, mostrando o quanto somos gratos por cada ato de bondade divina sobre nossas vidas.

Quando vemos a história de nosso povo, as muitas batalhas, as lutas pra se reerguer depois de derrotas sofridas, mas o Eterno sempre sendo misericordioso conosco. E desde os tempos de Moshe, HaShem decidiu dar-nos o privilégio de termos um lugar de encontro com Ele. Em Êxodo 40 vemos o primeiro Tabernáculo sendo erguido, um ano depois de saírem do Egito, e a Glória do Eterno se manifestando numa simples tenda. 

Séculos se passam e o Mishkan é substituído pelo primeiro Beit HaMikdash, erguido por Shlomo HaMelech e novamente a glória do Eterno toma aquele lugar, já em Jerusalém! 

Após a destruição do templo por Nabucodonosor, os filhos de Israel foram levados cativos na Babilônia, e lá, por setenta anos, choravam lembrando de Sião... 

Aí vieram Esdras e Neemias, reconstruindo a cidade e o Templo, e a bíblia diz: “muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em altas vozes quando à sua vista foram lançados os fundamentos desta casa; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não discernia o povo as vozes do júbilo de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão altas vozes, que o som se ouvia de muito longe. (Esdras 3:12,13)

Hoje, aqui em Jerusalém, meu choro contido nem sequer se comparava com aquele dos dias de Esdras, mas era de uma saudade incomensurável. Chorava feito uma criança! Talvez feito um ancião! 

Ao sairmos do hotel, em meu coração, era apenas mais um cabalat shabat em Jerusalém para mim, como tantos outros, e acredite: Dayenu! Isso já me seria o bastante! Mas HaShem é maravilhoso e Ele sempre nos dá muito mais!

Quando chegávamos perto do Kotel, já dava pra ouvir as vozes cantando o cabalat, mas quando avistamos o Muro, tudo mudou em meu coração: a Eliana me diz: “vamos parar para contemplar um minuto” e eu ao invés disso só queria apertar o passo e chegar logo, me reunir àqueles milhares de homens rezando. Quanto mais perto, mais lágrimas, mais emoção, mais Deus! E novamente a Eliana fala: “se é assim, imagina quando tinha o Templo!” E meu coração velho bate acelerado, inexplicável, impossível expressar em palavras. 

Ao chegar, em meu coração vieram as palavras do rei: “Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém. Jerusalém está edificada como uma cidade que é compacta. Onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, até ao testemunho de Israel, para darem graças ao nome do Senhor. (Salmos 122:2-4)

Ali naquele momento, vi as diferentes doze tribos de Israel, cada uma cantando de uma forma! Ainda tímido, mas com coração explodindo de alegria, fui me achegando, e ouvi o primeiro “lechá dodi” e cantei junto a um miniam com jovens americanos, todos com seus trajes típicos de adolescentes, kipah colorida e pulavam, sorrindo e cantando... 

Minutos mais tarde, outro lecha dodi, num grupo de ortodoxos, e um daquela tribo olha pra mim, sorri e me chama. Depois um cabalat completo com outra “tribo” mais ortodoxa ainda, e lá no meio um rapaz com seus peiots esvoaçantes, todo bagunçado, kipah branca, pulava de alegria! Era um breslev, claro! E assim fui eu, de grupo em grupo, de tribo em tribo, por horas cantando, chorando sem parar, porque isso já me seria o bastante! 

Ao regressarmos para o hotel, várias paradas, pernas já doloridas, não aguentava mais! E eu ali, sentando ainda sem palavras para compartilhar com a Eliana, mas com um sentimento de que estávamos conectados, então não havia o que dizer! 

E pouco a pouco fomos falando! E eu disse: “preciso escrever! porque escrever me permite dar vazão às palavras de meu coração, quem sabe como um salmista, talvez dos menores, mas com coração cheio de Deus!"

E aí me lembro que ontem fiz um devocional com palavras de Asafe, mas que agora preenchem ainda mais meu coração: 

“Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti...Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus!" (Salmos 73:25-28)

Concluo dizendo que para mim, um Kotel é suficiente! Um cantinho no Muro já me basta, porque talvez meu coração não suportaria sentir de perto a Glória do Templo! 

Que as tribos de Israel continuem a vir suplicar o favor do Senhor e darem graças ao nome do Eterno! Que todo cabalat shabat seja como esse! Onde Deus se revela aos Seus servos! Porque Ele é bom e a Sua misericórdia dura para sempre!

Shabat shalom umevorach!

Rosh Moshê Fundador e líder da sinagoga Ahavat Chessed. Agente de viagens personalizadas para Israel.

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